No mês passado, a revista Times (EUA) causou polêmica ao estampar, na capa de uma de suas edições semanais, uma mãe amamentando no peito seu filho, que aparentava ter cerca de três anos. Com a manchete “Você é mãe o suficiente?”, a matéria chamava atenção para um tema pra lá de polêmico: até onde as mães devem ir ao priorizar os filhos em sua vida, deixando de lado a sua própria vida.
Em artigo publicado na Folha de São Paulo, Rosely Sayão, que é psicóloga e autora do livro “Como Educar Meu Filho?”, explica que a matéria não falava somente sobre o tempo de amamentação. Ela apresentava a teoria do médico norte-americano Bill Sears, que defende que criar os filhos com muito apego ajuda a formar pessoas mais confiantes e seguras. Segundo Sears, “a mãe deve passar o maior tempo possível com os filhos, estender o tempo da amamentação e dormir com os pimpolhos na mesma cama”, entre outras coisas.
Para Rosely Sayão, sempre que falamos em “apego”, pensamos no excesso dele. Parece engraçado pensar nisso quando vivemos, segundo a psicóloga, um momento em que muitas mães já têm uma relação de proximidade excessiva com seus filhos e sabem de tudo sobre a vida deles. E, também, declaram seu amor o tempo todo, beijando e abraçando com uma frequência chega a incomodar os filhos. Sayão considera curioso que, ao mesmo tempo que há essa proximidade , muitas mães sofrem de uma culpa permanente, como se elas não conseguissem realizar o que idealizam como maternidade.
Opondo-se a fórmula ideal exposta por Sears – a de que ser mãe é se dedicar completamente ao filho, a psicóloga afirma que a geração criada dessa maneira mostra ter falta de maturidade e de autonomia quando termina a adolescência. E ela enfatiza que a adolescência, “por sinal, parece não terminar nunca!”.
Para Sayão, a dedicação aos filhos deve ser a prioridade na vida da mulher, mas isso não significa se dedicar única e exclusivamente a eles. “Significa estar disponível quando eles precisam -e não quando eles querem-, saber que educar supõe quase sempre desagradar os filhos e aguentar o sofrimento inevitável que a vida impõe às crianças, por exemplo”, afirma. E priorizar o filho, para a especialista, significa também dedicar um tempo, mesmo que pequeno, com exclusividade, sem interrupções.
Na reportagem, a psicóloga também falou sobre o tempo da amamentação. Citando estudos e pesquisas, ela afirma que a criança amamentada por mais tempo cresce fisicamente mais saudável. “Mas saúde é um conceito complexo que não se refere apenas ao aparato biológico”, diz. Isto porque a amamentação não alimenta só o corpo do bebê; alimenta também o tipo de relacionamento da criança com sua mãe.
A pergunta apresentada na capa da Times – “Você é mãe o suficiente?” – está há muito tempo em pauta, em todo o mundo. E neste tempo todo, tem provocado culpas vividas como reais por muitas mulheres, mas que, de fato, são produzidas por esse mercado que vende de tudo, inclusive ideias.