Não é raro ver pais fazendo confidências sobre os seus problemas matrimoniais aos filhos. No meio de uma turbulência familiar, muitas vezes os adultos se desabafam até com as crianças.
Porém, isso deve ser evitado por ser extremamente prejudicial para o desenvolvimento das crianças, a curto e longo prazo. Não se deve dar abertura para as crianças participarem das discussões entre o casal, de forma direta ou indireta.
Existe o risco de fazer tanto os filhos se sentirem culpados pelos conflitos matrimoniais como acreditem que precisam se envolver e tomar partido, escolhendo quem defender. Tudo isso prejudica o desenvolvimento afetivo e emocional da criança.
A criança precisa ter seu espaço e lidar com os seus próprios problemas, característicos da sua idade. Não deve se preocupar em resolver os problemas dos pais.
Os pais precisam buscar privacidade para as discussões, evitando que o filho testemunhe os problemas de relacionamento que só pertencem a eles.
Compartilhar conflitos matrimoniais pode afetar o desenvolvimento emocional da criança
É uma sobrecarga emocional com a qual a criança não está preparada para enfrentar. As confidências dos pais atraem para os filhos conflitos que não lhes pertencem e esses podem afetar o desenvolvimento de sua inteligência emocional.
Além dos prejuízos no desenvolvimento das crianças e no vínculo familiar, compartilhar com os filhos os problemas conjugais, até mesmo sem a intenção e de forma involuntária, pode impactar os futuros relacionamentos afetivos dessas crianças na vida adulta.
As crianças não precisam ter conhecimento dos problemas pessoais entre os cônjuges, mesmo quando os pais acreditam que se contarem tudo para os filhos estarão ajudando a enfrentar o desconforto de um possível divórcio.
Estar presente, além de proporcionar segurança, carinho e amor ao filho, deve ser sempre prioridade, mas com responsabilidade. Para isso, exige-se discernimento para saber a quais informações as crianças podem ser expostas.
Compartilhar conflitos matrimoniais pode configurar alienação parental
Vale a pena acrescentar que queixar-se dos conflitos do matrimônio para os filhos, além de gerar problemas emocionais e afetivos para eles, pode ser considerado alienação parental. Principalmente porque esse comportamento resulta em interferência na formação psicológica das crianças, uma vez que ela pode desenvolver sentimentos negativos em relação ao pai ou à mãe, ou ainda sofrer prejuízos no vínculo com ambos.
Muitas vezes, isso pode ocorrer tanto de forma intencional quanto não intencional. É equivocada a ideia de que a alienação parental acontece somente via um ato intencional, quando o pai ou a mãe fala mal do outro com a intenção de provocar sentimentos negativos e criar repulsa na criança por algum deles. Isso ocorre de forma não intencional também.
A alienação parental pode ser identificada em pequenas reclamações ou pequenos desabafos que podem induzir a criança, ainda que de forma não intencional, a sentir raiva de algum dos pais.
Na verdade, sempre que um cônjuge compartilhar sua insatisfação com o filho, descrevendo as características negativas em relação ao outro, pode configurar ato de alienação parental.
Sabe-se que a alienação parental existe em diversos níveis – do mais leve ao mais grave. Mas os pais devem se preocupar também com os pequenos atos de alienação, pois mesmo os mais “leves” possuem consequências reais.
Agora que você já sabe que os pais não devem compartilhar com os filhos os problemas conjugais, saiba também que a criança dá sinais quando está tomando vivendo alguma sobrecarga emocional. Isso pode acontecer através de baixo rendimento escolar, de tendências a se isolar ou a um comportamento agressivo e até mesmo no hábito de se apresentar na postura de culpada em vários eventos. Ao perceber esses sinais, os cônjuges devem dialogar e procurar atendimento terapêutico, tentando reverter os efeitos negativos causados a partir do momento que envolveram os filhos em situações que não eram da conta deles.