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Os perigos da tecnologia em família

O relacionamento entre crianças e telas é recente, porém cheio de fascínio. Os pequenos adoram gadgets eletrônicos e os pais, por sua vez, adoram a praticidade de entreter seus filhos assim. Se até mesmo os adultos perdem o controle da sua dependência dos aparelhos eletrônicos, é preciso ainda mais atenção na relação das crianças com as telas.

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A terapeuta e instrutora clínica de psicologia na Harvard Catherine Steiner-Adair entrevistou e estudou mais de mil crianças, entre 4 e 18 anos, para descobrir como a tecnologia está impactando nas suas relações sociais e nas suas vidas emocionais.

De maneira resumida, ela listou pontos essenciais nos quais pais e familiares precisam estar de olho:

Não coloque bebês na frente de telas. Segundo a pesquisadora, ainda não se sabe qual a interação química entre um smartphone e o cérebro de um bebê. Ela complementa: “Você é o melhor aplicativo para o seu bebê!”.

–  Converse com os professores sobre a relação da criança com a tecnologia. Os educadores entrevistados na pesquisa de Steiner-Adair disseram que as crianças que usam telas excessivamente brincam de maneira diferente (e menos criativa) na escola. Além disso, muitas dessas crianças têm menos paciência para acompanhar as aulas e desenvolvem menor poder de concentração.

Crianças se sentem em competição com as telas dos pais. Este ponto apareceu muitas vezes na pesquisa e demonstra que as crianças sentem (e muito) a disputa de atenção quando seus pais são viciados em suas telas.

As crianças percebem a falta de relacionamento na família.  Quando passamos a focar mais nas telas do que nos outros membros da família, incluindo os cônjuges, a consequente falta de sintonia nos relacionamentos é evidente no ambiente até mesmo para os pequenos.

É quase impossível saber tudo que as crianças fazem online. Mais de 70% dos adolescentes e crianças entrevistados confessaram que mudariam seu comportamento online se soubessem que os pais o estão vigiando.

Via Huffington Post

Especial educando e ensinando, apesar das diferenças – parte 2

Hoje, vamos falar mais um pouco sobre a relação entre pais, filhos e a vida digital. A educação e o  aprendizado são a base das relações e devem iniciar em casa, o que inclui nesse processo outros familiares, como tios e irmãos. Afinal, todos percebem as diferenças no estilo de vida e  nas formas de comunicação e relação com o outro. Segundo pais e tios, a falta de segurança acabou promovendo outras mudanças nos hábitos das famílias, especialmente em cidades maiores – onde o brincar na rua foi deixado de lado em detrimento dos jogos eletrônicos.

Tamara Campos, de Santa Cruz do Sul (RS), é mãe de Vitor e Valentina, de 7 e 3 anos. Ao analisar a realidade que seus filhos vivem hoje, ela destaca a violência como um dos fatores que influenciam as diferenças. “Na minha infância, brincávamos muito na rua, mas era diferente. Não existia essa violência louca de hoje. As casas tinham pátio e as mães não superprotegiam os filhos como agora”, comenta. Para enfrentar o problema da falta de segurança, ela entende que os pais acabam permitindo que os filhos conversem com os amigos via internet, por ser mais seguro. Além disso, mandar um e-mail é mais simples do que usar o telefone. Apesar destas facilidades, ela considera a comunicação pessoal muito importante, pois permite um troca muito rica de informações quando as pessoas estão frente a frente .

O acesso às novas ferramentas de comunicação é apontado por Tamara como uma grande vantagem para os pequenos. Ela percebe que eles nascem sabendo mexer no notebook, no Facebook, enquanto sua geração passou por curso de digitação ou datilografia. “Eles não precisaram conhecer o meio digital, já nasceram nele. Mexer na internet e suas plataformas é tão normal quanto a TV é pra nós e não era para nossos pais. Meu filho mexe no tablet melhor do que eu, pois tenho medo de estragar. Já, para ele, é uma ferramenta usual”, salienta.

Apesar deste acesso facilitado às informações, de forma digital, Tamara incentiva os filhos a terem contato com livros de papel. Já as brincadeiras não são as mesmas, o que às vezes deixa a mãe assustada. “Outro dia, convidei eles pra brincar de ovo choco e eles não sabiam o que era. Fiquei me sentindo um ET, pensando ‘como assim? Toda criança sabe o que é ovo choco!’. Mas logo me dei conta de como as coisas mudaram as brincadeiras hoje são outras”, conclui.

Moradora de Novo Hamburgo (RS), Aline de Negri Silva ainda não tem filhos, mas participa da criação do sobrinho Henrique, de 3 anos. Como Tamara, ela também percebe as diferenças em relação à falta de segurança. “Comparando a infância da década de 80 com a atual, a grande diferença são as brincadeiras. Crescemos em um tempo em que ainda podíamos brincar no parque, andar de bicicleta nas ruas de paralelepípedo, em um tempo em que subir em árvores e brincar de esconde-esconde e pega-pega eram mais comum”, recorda.

Aline frisa que na sua infância já havia brinquedos eletrônicos, mas as brincadeiras se misturavam, facilitando o desenvolvimento enquanto grupo. Hoje, ela percebe que as crianças vivem mais como ‘crianças de apartamento’, em que a TV e o DVD viraram atrativos por questões de segurança, assim como os brinquedos  eletrônicos são cada vez mais sofisticados e com menos interação entre os amigos e coleguinhas.

Para Aline, que é psicóloga e professora, as famílias devem incentivar os pequenos pelo bom exemplo, seja em comportamento ou hábitos. Como exemplo, ela cita a dedicação aos livros. “Certo dia estava digitando algo e consultando um livro. Quando olhei para o lado, meu sobrinho, que estava brincando, buscou um livro e brincou de leitura, mostrando suas novas descobertas. Ele repetia a leitura que tínhamos feito na noite anterior antes de dormir”, conta, emocionada, frisando o quanto as crianças aprendem pelos exemplos.

Pai do Theo, de 3 anos, Sérgio Baccaro Júnior teve claro em sua mente desde o nascimento do filho que ele nascera no mundo digital. “Por me observar mexendo num iPhone, por exemplo, ao invés de tentar pegar os objetos (como botões de camisa) com a mão, ele começou a tocar com o dedo indicador”, relata. E o digital também fez parte da comunicação em família, desde cedo: como Baccaro sempre viajou bastante a trabalho, ao invés de falar com o pequeno por telefone, usava videochats para interagirem.

Baccaro percebe, no dia a dia com Theo, que ele já nasceu em um mundo que o deixará muito mais preparado para o futuro do que os nascidos em gerações anteriores. “A facilidade com que lida com a tecnologia com pouco mais de 3 anos é tremendamente maior do que a minha, com 39”, salienta. Por outro lado, ele ainda considera difícil mensurar as desvantagens, pois o mundo mudou muito e a diferença entre as gerações surgiram de forma muito rápida. “Pensávamos, por exemplo, que a internet nos deixaria cada vez mais isolados mas hoje percebo o contrário: estamos cada vez mais sociáveis. Acho que só no futuro perceberemos mudanças mais claras e suas consequências“, reflete.

Enquanto esse futuro vai se desenhando, Baccaro estimula Theo a brincar com as tradicionais brincadeiras, desde esconde-esconde até amarelinha. O pai tenta dividir as atividades do filho entre “analíticas” e digitais, assim como incentiva a leitura em papel. Mas aí ele encontra um problema:  os livros digitais, por serem mais coloridos e mais interativos, estimulam e atraem muito mais as crianças.

Especial Educando e ensinando, apesar das diferenças – parte 1

O mundo viveu diversas mudanças nos últimos 20 anos. Mudanças que certamente marcaram aquelas pessoas que viveram e sentiram, no seu dia a dia, as transformações: globalização, comunicação móvel, internet, redução das distâncias e das fronteiras. Qual leitor imaginaria, em sua infância, conversar em tempo real com o amigo que mora na China, sem gastar uma fortuna em conta de telefone? Ou que teria ao alcance dos dedos todos os melhores momentos que vive, registrados em imagens? Ou, ainda, que poderia contar para o mundo sua indignação pelo mau atendimento de uma empresa e que, ainda por cima, encontraria pessoas solidárias a milhares de quilômetros de distância?

Pois bem, amigos, o tempo passou e o nosso planeta se transformou. E essa frase, simples, pode se tornar um problema para alguns jovens pais. Como ensinar, educar uma criança, que tem todas as informações a sua disposição a um clique de mouse (ou de dedos em um touch)? Como brincar de jogar bola na rua com um menino apaixonado pelo Fifa Soccer ou brincar de bonecas com a menina que curte The Sims?

Pois a Xalingo decidiu ouvir pais, nascidos nas décadas de 1970 e 1980, para saber como eles estão educando e criando seus filhos. Porque, nestas famílias, não existem baby boomers nem geração X, Y ou nativos digitais. O que existe é amor, compreensão e exemplos a serem seguidos.

Uma das principais mudanças no estilo de vida apontada pela mãe Nathalia Silva, de Novo Hamburgo (RS), é o controle. “Eu brincava na rua da minha casa, não tinha medo, não tinha perigo. Hoje moro com a minha filha Giovana, de 9 anos, no mesmo local, e ela só vai para a rua se tiver algum adulto junto”, comenta. Ela frisa que a maioria dos colegas da filha mora em apartamento, condomínios, fechados e com segurança. “Não lembro de, na minha infância, ter um coleguinha que não morasse em uma casa e tivesse um pátio para correr”, recorda. Apesar disso, as duas divertem-se com brincadeiras tradicionais, como andar de bicicleta, jogar bola, pular amarelinha, mesmo que para isso recorram a áreas abertas em um clube.

Outra diferença citada por Nathalia é a forma de comunicação: enquanto a Gi se comunica com as amigas pelo MSN, raramente por telefone, eu vivia pendurada no telefone. “Elas se falam de manhã pela webcam, trocando ideias e dúvidas sobre o tema da aula, à tarde”, detalha.

O fato de Giovanna ter nascido na era digital tem prós e contras, segundo a mãe Nathalia. É positivo devido ao acesso a informação, o que fará com que as crianças não sejam bitoladas e fechadas perante o que acontece no mundo. “Mas isso só é bom se ensinarmos sobre como lidar com isso”, poderá. Já, como desvantagem, Nathalia cita que as crianças podem ficar muitas horas no computador ao invés de brincar com algo mais educativo e construtivo. Ela frisa que é preciso ficar de olho e dar o exemplo, tentando não ficar grudados na tela do notebook.

E apesar do acesso digital a livros, Nathalia e Giovanna mantém o hábito do livro de papel. “Antes de dormir, eu pego algum da faculdade e ela um dos vários que ela tem. Já nas pesquisas para escola, ela sempre pede para usar o Google, principalmente quando o tema é de Inglês, mas sempre ressalto que ela precisa aprender a consultar o dicionário de papel também”, explica.

Moradora de Campinas (SP), Elisa de Azevedo Pimenta é mãe da Marcela, de 2 anos e meio. Para ela, a grande diferença entre as duas gerações é o acesso à informação e a cultura. “Eu amava ver filmes da Disney, mas só os via em aniversários na casa de um vizinho, que tinha um daqueles projetores de filme. Aquilo para mim era o máximo e eu vivia sonhando com aquele ‘cinema’”, recorda. Em compensação, a pequena Marcela pode ver todos os filmes que quer, seja no seu próprio DVD ou no Youtube – que ela conhece muito bem. Da mesma forma, Elisa recorda que Marcela já foi ao teatro, enquanto ela só assistiu a uma peça aos 15 anos. “Essa é a principal diferença: o que eu conheci jovem, minha filha nasceu conhecendo”, afirma.

Elisa ainda destaca a facilidade em lidar com as novas tecnologias que as crianças adquirem atualmente. Segundo a mãe, é impressionante como a Marcela manuseia um I-Phone e como ficou impressionada quando descobriu o I-Pad, onde tudo ficou ainda maior. “As crianças são ávidas por informação e assimilam rapidamente as novidades, que nós demorávamos anos para receber e armazenar. A desvantagem é que muitas vezes o lazer gira muito em torno do computador, do I-phone, do DVD”, cita. Para evitar o foco somente em elementos digitais, a família de Elisa incentiva Marcela com brincadeiras tradicionais, como bolhas de sabão, picnic no parque, motoca, zoológico, bichinhos, passeio a cavalo. “Tentamos fazer com que ela tenha uma infância saudável, sem exageros tecnológicos”, frisa.

Também de Novo Hamburgo (RS), o pai Bernardo Guedes entende que as crianças nativas digitais somente têm vantagens em relação à infância que ele viveu. “Vejo que Isadora, minha filha, tem a tecnologia a favor dela, que oferece facilidade de comunicação e conforto”, diz. Ele recorda que, quando era criança, o Atari era o videogame mais moderno, sua casa não tinha videocassete e o computador dava seus primeiros. Em oposição àquele tempo, hoje o computador faz parte da vida dos pequenos que, por tentativa e erro, aprendem a mexer nos programas e sites.

Ao pensar sobre a comunicação, Bernardo percebe que Isadora, que tem 6 anos, pensa que é muito mais fácil falar com a Xuxa, a Barbie ou outros ídolos, porque basta mandar um e-mail pelo site. E ele se diverte ao relatar a descoberta moderna da filha: “Esses dias ela me disse ‘ ‘pai, você sabia que existe uma coisa chamada Correios e que você pode colocar uma cartinha e me mandar?’”, relata.

Apesar da modernidade fazer parte da vida da pequena, Bernardo tenta mostrar que é ótimo ter amigos e criar brincadeiras, como roupinhas para as bonecas, comidinhas… O importante, para ele, é saber dosar as atividades. Ao mesmo tempo, ele incentiva o hábito da leitura, especialmente agora que a Isa aprendeu a ler. “E minha filha adora! compro gibis da Turma da Monica e livros. Chega a ser uma briga, pois sempre que passamos em uma livraria ela quer um livro novo e nem sempre tenho dinheiro pra isso”, conta.