O distúrbio de fluência da fala (conhecido como gagueira) atinge cerca de 1% da população mundial. E para entender o que ele é, como se identifica, onde e quando procurar ajuda, a fonoaudióloga Lílian Kuhn explica melhor.
A gagueira é um distúrbio crônico da fluência da fala que tem maior ocorrência na fase infantil. Ela existe em vários níveis. Em alguns casos há associado a ela tiques de tensão (movimentos tensionados ou ritmados do corpo que acontecem junto com a gagueira). Isso distrai o interlocutor e agrava o quadro do distúrbio da comunicação.
Essa condição não tem cura, mas pode melhorar muito com a intervenção fonoaudiológica; em alguns casos, é preciso associar a psicoterapia para deixar a criança segura para lidar com as reações negativas que recebe de seus interlocutores.
Gagueira é involuntária
Não adianta pedir pra pessoa parar de gaguejar, nem pedir para ficar calma, respirar, falar devagar. A ansiedade e o nervosismo impactam a gagueira, mas essas não são as causas do distúrbio. As pessoas fazem muito isso e o efeito é o contrário: vai deixando a criança mais ansiosa, mais nervosa, pois ela está tentando falar e tem alguém dando ordem, dizendo o que ela deve fazer. Quem tem que ficar calmo é o ouvinte.
O melhor jeito de reagir é ouvir o que essas crianças estão falando: o conteúdo da fala, e não o formato da fala. O ideal é mostrar que está entendendo o que está sendo dito. Não se deve rir, orientar a fala, nem completar a frase. É preciso esperar, ouvir e responder adequadamente. Como falantes mais experientes, adultos em geral precisam dar o exemplo: falando com calma, parando o que estão fazendo para responder devagar e olhando para a criança, em vez de apenas dizerem a ela como devem falar.
Causas do distúrbio
Não se sabe o que causa a gagueira, mas a hereditariedade é um fator importante. Há 50% de chance de transmitir a gagueira aos filhos. Fatores ambientais e emocionais podem influenciar. Por exemplo, quando a criança não tem espaço para falar. Há casos em que um irmão não dá chance, cortando a fala do outro; ou um dos irmãos fala demais e não dá tempo de o outro se expressar.
Aparentemente, existe uma dificuldade de planejar motoramente o som da fala. Dados de 2010 atestam que ela atinge 1% da população mundial e 80% dessas pessoas são homens. Não existe uma explicação para essa prevalência, mas sabe-se que as brincadeiras oferecidas às meninas são mais intelectuais e, com meninos, mais corporais, e isso pode impactar o funcionamento cerebral.
Tratamento para gagueira
O tratamento com fonoaudiólogo inclui um trabalho lúdico, com músicas e histórias, que fazem a criança perceber como é fala dela e como ela pode controlá-la. A criança precisa ter consciência da fala para depois ter controle sobre ela. A duração é de médio a longo prazo; pode ir de 6 meses a 2 anos.